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Douro, meu amor, meu pecado


Olho a água que desliza nos ribeiros,
encostado à sombra dos sobreiros.
Vejo muros erguidos com mãos calejadas,
pedra sobre pedra, sem enxadas.

O Douro não é perfeito é eterna dor,
é fruto e colheita de suor,
embalado no silêncio do meu amor.

Tem cepas sofridas, terras duras e xistosas,
enfeitadas de rosas e mimosas.
Homens e mulheres vivem entre o sonho e a fadiga,
mas é nessa luta que vivem a própria vida.

As papoilas ardem nas vinhas douradas,
as oliveiras pacientemente amadas.
As figueiras oferecem frutos em segredo,
rebanhos e cavalos são companhia sem medo. .

Tudo isto é Douro:
encanto, ferida e tesouro.
Um amor que prende e liberta sem querer,
que fere e consola até morrer....

Douro, tu não és apenas um lugar:
és o meu destino santificado para sempre te amar,
o meu labor, o meu amor,
o meu eterno pecado.
Por Deus abençoado.


Victor Marques
Douro, Amor Eterno


Nas encostas de xisto, onde a terra é oração,
ergue-se o Douro, altar do tempo,
onde o suor do povo se faz consagração
e cada videira é memória do firmamento.

O rio corre, sentimento sem fim,
nos reflexos guarda o rosto de Deus,
espelho da vida, caminho de mim,
mistério sagrado do céu e dos meus.

O povo que te cultiva resiste,
mãos calejadas, olhar que persiste.
Cada cepa é promessa guardada,
bago a bago, esperança redobrada.

Tu és vinho e sangue derramado,
na Eucaristia eternizado.
És o cântico dos sinos ao amanhecer,
és o silêncio estrelado do meu viver.

Bendito sejas, Douro imponente,
mistério do passado e do presente.
O teu vinho é de qualidade superior,
por Deus ungido com Seu amor.

Ó pátria de vinhedos, fé e ternura,
santificada pela dor e pela desventura,
serás sempre eterno tesouro
guardado por Deus, meu Douro de ouro



Victor Marques
Douro  eterno amor ouro
Deixai me ser Douro e  até Vinho.


Nas encostas de xisto, o tempo esperava,
a sombra dos velhinhos de olhar cansado.
Mãos calejadas, memória da enxada,
num rio de suor, silêncio sagrado..

Cavalos subiam as encostas
Homens com cestos cheios às costas
e o sol, ao cair, dourava o o seu rosto
Por amor, destino ou desgosto

Os socalcos ecoavam rezas baixas em segredo
vozes que o vento levava consigo e com medo.
Passarinhos pousavam nas ramagens, das videiras
lembrando a saudade de um Douro antigo coberto de canseiras.

Era dor, era vida, era chão sofrido e molhado
mas também festa na vindima tardia do vinho dourado
O rio corria levando tudo com sentido,
os antepassados cantavam um amor antigo.

E hoje, quem passa, ainda pressente
que cada pedra, cada parreira,
guarda no coração, eternamente,
o sangue e a alma desta gente inteira.


Este meu Douro com gente humilde sem igual,
É sangue vivo deste meu Portugal .
Também eu sou produto feito de cheiro a rosmaninho,
Deixai me ser Douro e  até  Vinho


Victor Marques
Douro, vinha, amor,antepassados
Vede o que fazem à minha amada Nação:
Entregue, sem pejo, à ganância vil da burguesia,
Que rouba ao povo o sonho e a ambição,
Mergulhando-o num eterno mar de apatia e agonia.

E eis que uma ***** disforme se levanta,
Dos jardins sombrios da dor e da servidão,
Onde o corpo se dobra e a mente se espanta,
Na esperança febril de uma nova revolução.

Os bons de que falava Camões,
Esses padecem de uma dor implacável,
Humilhados, esmagados pelos patrões —
O quinhão é escasso, o operário descartável.

Neste povo ardem infinitas paixões,
Calejadas por um labor quase servil e inexplicável.
E tu, quem és para ditar-me sermões,
Tu, que apagaste um fulgor outrora inabalável?

Quando a tua hora chegar — e há de chegar —,
Verás tombar os lacaios, os servos e os escravos,
E das cinzas um novo Portugal há de brotar,
Pois não há grilhões que vençam o fogo dos bravos.

De pança cheia e a boca metida no polegar,
Fitam, com desdém, este povo em farrapos,
Os vilões da História, prontos a tragar,
O sangue que rega o vermelho destes cravos.

Que lá do alto ressoe, por fim, o clamor da nossa união,
No eco altivo do trabalho que ergue a esperança,
E finde-se a eterna sombra da opressão,
Pois só do amor e da garra germina a mudança.

E, prostrado, fatigado, mas de punho erguido e cerrado,
Grito, em brado inflamado: — Viva a Revolução!

— The End —