Douro meu, junto ao peito,
Tua corre devagar, a preceito.
Duas veias com sangue e alma,
Que cantam num silêncio que acalma.
Nos degraus de xisto e calor,
Suor de gerações antigas,
Muros erguidos com dor e amor,
Em tardes de sombras amigas.
Amanhece, e Deus respira
Na névoa do vale matinal.
A vinha, banhada pela noite,
É pureza divinal.
Como se pedisse perdão
Ao sol, num dia escaldante
Rende-se a luz, com devoção,
Ao ciclo eterno e vibrante.
Há uma lua que espreita,
Com lágrimas por quem se deita....
E há saudades em cada folha,
Que o vento da encosta pediu.
E eu sou parte deste vinho,
Fermentado com fé e ternura.
Sou poema entre as videiras,
Sou ferida e também cura.
Chamo-me lágrima, sou suor,
Sou saudade em maturação.
Mas no coração do Douro,
Serei eternidade e Devoção.
Victor Marques
Douro Valley
Douro amor, vinho eterno