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Barco Rabelo à Deriva



Um barco rabelo à deriva,
sem rosto, sem leme, sem voz.
Carrega no ventre o silêncio dos homens
que foram pais e avós.

Foi rio acima com sonhos de vinho,
volta vazio, ausente,
como se o Douro chorasse sozinho
hoje, amanhã e sempre.

No espelho do Douro, sem norte nem cais,
leva no casco feridas antigas
e no silêncio, vozes
que não voltam mais.

Não tem vela, não tem rumo,
não carrega mais o vinho dos deuses,
mas ainda flutua,
feito fantasma de um tempo
que tudo leva com o vento.

Era nele que os homens desciam o rio,
com o coração nas ondas e, por vezes, frio,
o suor preso às amarras da encosta…
Vinham da montanha com o amor
de quem do rio sempre gosta.

Agora, o barco vai só,
como uma rena sem trenó,
vendido em copos que não sabem a chão,
nem sentem compaixão .
Como os velhos que ficaram nas aldeias
a ouvir o uivar das alcateias.

Ninguém ouve esse barco rabelo a deslizar,
ninguém lhe pergunta onde vai parar.
Foi nas suas tábuas cheias de podridão,
foi na sua sombra que se rezou pelo pão,
foi com ele que se ensinaram os filhos
a amar  sem explicação.

Mesmo sem leme,
carrega a alma duriense,
que ama e sente...
Carrega promessas por cumprir,
carrega o abraço do pesar e do sentir —
e, sem rumo, vai prossegui
Barco Rabelo amor Douro
Dourado Doce Douro

Dourado,
como o fim de tarde que adormece os montes,
como o néctar que escorre dos bagos amadurecidos pelo tempo. pelos horizontes.
Assim é o Douro
Doce no coração,
valente na alma,
firme como os braços dos que vieram antes., de outra geração.
Feitos bagos  de uva de uma só nação.

Aqui,
neste vale esculpido a pulso envaidece
cada socalco é uma carta de amor dos antepassados que nos rejuvenesce ,
cada videira com  sussurro antigo a dizer:
Fica. Ama. Cuida para o Douro Bendizer!

O Douro não é só paisagem,
é herança viva,
é o abraço de um avô invisível,
é o beijo de uma avó deixado num cálice de Porto.
E dum barco  rabelo à deriva
Sem cara nem rosto.

Quem aqui ama, ama devagar.
Com mãos sujas de terra cuidar

com olhos que choram quando o céu se pinta de ouro dourado.
Ama com o peito inteiro pela lança lancetado
como se cada gole de vinho fosse um reencontro do presente passado,
com a infância, com a origem, com o eterno amor sempre esquecido.

No Douro, o amor não morre
amadurece.
Como o vinho nos tonéis que sendo ser vivo,
Tudo ama e nossa alma se envaidece  
Douro dourado doce que nunca desaparece.

Victor Marques
No primeiro sopro da manhã viva,
o Douro respira névoa e promessa,
borboletas sem nunca ter pressa,
pássaros cantam a esperança perdida.

O sol, nascente, felicita o sobreiro,
Aquece as vinha sempre primeiro.
Muros de xisto e granito guardam segredos nunca contados ,
Amém ao Douro,  a nossos antepassados.


Rolhas esperam histórias em garrafas adormecidas,
as uvas amadurecem entre murmúrios e paisagens queridas.
O  rio que corre lento, como o tempo,
Com o respeito a Deus e ao meu pensamento.

E ao cair da tarde, quando o céu se inflama,
um horizonte alaranjado beija o vale duriense e  diz que me ama.
O Douro, inteiro, torna-se carícia e verdade ,
feito de luz, suor e  eternidade.

Aqui cada pôr do sol é uma bênção e a minha inspiração!
Cada amanhecer, um recomeço, uma nova comunhão.
Na alma duriense existe amor e serenidade,
Feito de vinho e saudade.
Vinho Douro carícia verdade
Dedicado  a Antonia Ferreira, Ferreirinha



No coração das encostas sem alegria ,
onde a videira reza à luz do dia,
viveu um nome que o Douro guia
Ferreirinha sofres com tanta agonia.

Plantou sonhos no xisto sofrido,
viúva cedo, mas o Douro foi seu abrigo,
com mãos de ferro e alma de flor sentida,
deu ao Douro  nova vida.

Hoje, noutro tempo de incerteza,
em que o vinho luta por valor,
há um homem que, com firmeza,
honra o grande e pequeno viticultor .

Sou letrado, mas  lavrador de esperança,
não vendo minha  alma por qualquer benefício,
Prefiro dar terno carinho e confiança
A quem cuida a vinha com sacrifício.

Como tu, Antónia  que também sonhaste,
com um Douro livre e verdadeiro,
o produtor pequeno nunca abandonaste,
e lutaste pelo Douro no mundo inteiro.






Para quem tem coração duriense:

Que ninguém esqueça que o Douro tem nome de gente.
Que o vinho é verso, é verdade, é semente.
E que os herdeiros da Ferreirinha ainda andam por cá nas encostas a trabalhar,
com enxada na mão e dignidade no olhar.



Victor Marques
Duriense com Alma
Wine Producer Douro Valley
Douro meu, tão ferido e calado,
terra de sangue, de sol lavrado,
ergue-se agora em grito rasgado
Douro meu amor, meu legado.

Na mão que cava, a alma floresce,
Como um amor que não se esquece.
Cortam-nos sonhos , estragam nossas vidas.
Douro meu dás paisagens queridas.



Ah, Douro , muralha e pranto,
ninguém te  dá amor e alento.
Querem vender-te em postal ilustrado,
Esquecendo o meu povo mal amado.

Não queremos migalhas, nem piedade,
mas uma política com verdade.
Queremos ser parte, não vitrine,
num país que ouça, sinta, e determine
que o Douro é raiz, futuro e pão,
E quem nele trabalha  vive com paixão.


Grita, Douro, do fundo das fragas,
Elevado com minhas palavras.
Onde dormem os que têm poder,
Nao deixem meu Douro morrer.

E se ninguém me ouvir, Douro meu,
serás grito eterno, na rocha e no céu.
Serás verso, punho, lágrima e chão,
Douro minha vida, meu coração...
Douro   amor  terra,legado
UM GRITO PELO DOURO

O que hoje escrevo é um apelo. Um lamento de quem trabalha com a terra, com as mãos e com a alma. Oxalá alguém com responsabilidade leia estas palavras, entenda o que aqui se denuncia e tenha a coragem de agir. Porque o Douro não pode mais esperar.

Hoje, em mais uma reunião no IVDP, discute-se o comunicado de vindima , 68 mil pipas de Vinho do Porto, com uma redução anunciada no consumo que ninguém sabe ao certo qual será. O ano agrícola já se anuncia duro, com quebras de produção a rondar os 30%. E se, para além disso, vierem os cortes prometidos, estaremos perante uma falência generalizada.

Não é só a vinha que sofre. Também a azeitona, depois de uma floração que nos encheu de esperança, foi em grande parte dizimada pelo clima. O futuro que se avizinha é *****.

O que mais dói, contudo, é ouvir as vozes de certas pessoas da cidade ,ignorantes e arrogantes  que dizem que vivem a subsidiar-nos com os seus impostos. Uma infâmia. Não conhecem o nosso labor, não sabem o que custa levantar-se às cinco da manhã para cuidar da terra. Não sabem o que é produzir riqueza, vinho, azeite e paisagem.

Esta visão urbana e ideológica de mercado, de uma tal “lei da procura”, está a matar-nos. Porque os mercados, quando não são regulados com justiça, tornam-se armas contra quem trabalha. E nós, os que amamos o Douro, estamos a pagar o preço dessa desinformação permanente.

Não pedimos esmolas. Pedimos justiça. Pedimos visão, coragem política, sensibilidade para com a terra e os que a mantêm viva. O Douro não é um  postal. É suor, é memória, é alimento, é futuro. E está a ser traído.

Victor Marques
Produtor duriense
Doiro, produtor,vinho,Paisagens
Universo Duriense


As estrelas e a lua a brilhar,
Cegos a sorrir sem chorar.
Horizontes de laranja e vinho na mente,
Universo justo, fiel e presente.

O mundo real que o céu nos revela,
Sementes lançadas na vinha singela.
Areia do Douro, espuma do mar,
Paisagens vivas, sem contas a dar.

A natureza gira em sua rotação,
O universo vibra como uma canção.
Tempo maduro e de bem querer,
Sol sobre o  Douro ao  amanhecer.

Homens procuram o que esqueceram,
Sonhos e vinhas que perderam.
Universo ferido e por vezes perdido,
Universo Duriense sempre esquecido

Victor Marques
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