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No Douro, entre Céu e Vinha

No anfiteatro de socalcos,
o Douro ergue-se como oração,
pedra e videira entrelaçadas,
mãos de homens atarefadas,
vivendo em comunhão...

Deus habita aqui,
na lágrima do sol que cai sobre o rio,
no céu alaranjado que se desfaz em brio,
no cântico escondido das aves,
no rumor das folhas ao vento, sempre suaves,
no zumbido que a noite recolhe em simpatia,
como quem embala a tristeza em alegria.

O vinho, fruto sagrado,
feito com amor desdobrado,
é comunhão, é missa sem tempo nem hora,
é respeito, é Deus, é memória,
é abraço partilhado à mesa do povo,
é corpo de terra e espírito de fogo,
que se oferece em cada copo matizado,
entre céu, vinha e pecado.

No alarido da natureza,
há silêncio que fala à noite, ao luar,
há o mistério de Deus por contar,
a tocar cada rama, cada galho,
cada coração que precisa de agasalho.

E quando a noite cobre os montes,
com véu de prata e murmúrio de frescas fontes,
fica-nos a certeza de que o Douro é saudade sentida:
aqui se reza sem palavras,
aqui se ama sem medida,
aqui o homem e Deus
são vizinhos eternos para sempre,
terra e vinha, sua semente.

Victor Marques
Douro, meu amor, meu pecado


Olho a água que desliza nos ribeiros,
encostado à sombra dos sobreiros.
Vejo muros erguidos com mãos calejadas,
pedra sobre pedra, sem enxadas.

O Douro não é perfeito é eterna dor,
é fruto e colheita de suor,
embalado no silêncio do meu amor.

Tem cepas sofridas, terras duras e xistosas,
enfeitadas de rosas e mimosas.
Homens e mulheres vivem entre o sonho e a fadiga,
mas é nessa luta que vivem a própria vida.

As papoilas ardem nas vinhas douradas,
as oliveiras pacientemente amadas.
As figueiras oferecem frutos em segredo,
rebanhos e cavalos são companhia sem medo. .

Tudo isto é Douro:
encanto, ferida e tesouro.
Um amor que prende e liberta sem querer,
que fere e consola até morrer....

Douro, tu não és apenas um lugar:
és o meu destino santificado para sempre te amar,
o meu labor, o meu amor,
o meu eterno pecado.
Por Deus abençoado.


Victor Marques
Douro, Amor Eterno


Nas encostas de xisto, onde a terra é oração,
ergue-se o Douro, altar do tempo,
onde o suor do povo se faz consagração
e cada videira é memória do firmamento.

O rio corre, sentimento sem fim,
nos reflexos guarda o rosto de Deus,
espelho da vida, caminho de mim,
mistério sagrado do céu e dos meus.

O povo que te cultiva resiste,
mãos calejadas, olhar que persiste.
Cada cepa é promessa guardada,
bago a bago, esperança redobrada.

Tu és vinho e sangue derramado,
na Eucaristia eternizado.
És o cântico dos sinos ao amanhecer,
és o silêncio estrelado do meu viver.

Bendito sejas, Douro imponente,
mistério do passado e do presente.
O teu vinho é de qualidade superior,
por Deus ungido com Seu amor.

Ó pátria de vinhedos, fé e ternura,
santificada pela dor e pela desventura,
serás sempre eterno tesouro
guardado por Deus, meu Douro de ouro



Victor Marques
Douro  eterno amor ouro
Entre socalcos e colinas,
água de frescas minas,
bebendo a luz que cai do céu
Douro coberto por branco véu.

Local sagrado com história milenar,
paisagem de encantar,
escuto pela manhã os passarinhos,
nas videiras a beleza dos seus ninhos.

O vento acaricia as uvas douradas,
Com mãos de belas fadas.
Cada bago é um milagre sagrado,
Douro meu amor bem amado.

Sobreiros e giestas abençoados,
rãs cantam cânticos desafinados.
O sol espreita no horizonte,
beijando fresca fonte.

Ao entardecer uma paz que nos rodeia,
é Douro sem mar, sem areia.
A lua vai chegar sorrateira,
durmo com o Douro à Cabeceira.


Victor Marques
Nas encostas rasgadas pelo sol e pela chuva,
Sanguec e memória feita de uva.
Cada cacho é um verso, cada socalco um pensamento
escrito com pena e lamento.

Mas há um rio que não corre em águas claras,
corre em moedas fugidias e promessas caras,
em contratos frios, que ignoram as raízes,
em palavras doces que escondem cicatrizes.

O Douro chora  não de tristeza, está enfurecido
porque quem vive o vinho não vive está desiludido.
O homem da vinha é refém do tempo e da dor,
voz muda no conselho dos poderosos em redor.

Hoje, como ontem, repete o seu cântico nobre
de um povo que entrega a vida e recebe o troco de pobre,
de uma terra que dá ouro e colhe desventura,
de um futuro impresso em papéis sem cultura.

Mas o Douro é feito de gente que não se cala,
de mãos que plantam esperança entre as pedras que ninguém abala,
de olhos que enxergam além do horizonte frio,
de corações que batem no pulsar do desafio.

Ergamos a voz  vento livre e sem correntes
que atravessa as vinhas, desperta as nosssas mentes,
que grita justiça verdade e vida,
por um Douro de alma quase perdida.

Porque o Douro não é só terra é gente,
não é só vinho é memória e presente.
E enquanto houver uva, haverá luta e dor.
E enquanto houver luta, haverá Douro e amor.


Victor Marques
Douro  chora  vinhas  amor
Fogo e Saudade


O céu arde em brasas sobre o rio,
como se o sol cantasse ao desafio,
mas o Douro guarda segredos antigos
que só a noite revela aos meus amigos.

Pai António, firme como as encostas,
no olhar, o peso que trazias às costas,
perdido no tempo do desalento,
meu Douro, meu muro de sofrimento.

Maria, mãe, no silêncio da cozinha,
cheiro a pão e mosto e  a labuta que se avizinha,
olhos que choram sem pedir nada,
videira da vida, da família sagrada.

Suor na vindima, rosto cansado,
mistura-se à terra, ao pó, ao fado,
e nas pipas dorme um tempo nunca criado  
que afasta a solidão do passado.

Avós  fantasmas doces e fiéis,
Escondidos entre tonéis,
sussurram histórias de fé e cansaço,
feito de uvas e do seu abraço.

No rio, o reflexo é pura ilusão,
procuro rostos que já  cá não estão,
mas encontro sempre o mesmo brilho guardado
de um amor eterno, ousado.

Douro é saudade que o mundo reclama,
é fogo na alma, é lágrima e pão,
é força que prende e vento que chama,
meu destino, minha salvação.
Douro  amor eterno  antepassados
Mãe Duriense


Na tua face, vinhas traçadas do tempo,
nos olhos, o rio inteiro a correr.
Mãe Duriense, barro e lamento,
és raiz da qual tive de nascer.

Com mãos de granito e sol cheio de mosto,
lavras o pão, regas a horta com gosto.
Entre socalcos, és flor que não cansa,
és Mãe da terra, és força, esperança.

Carregas a dor mas nunca o dizes.
És chão fecundo, com boas raízes.
Dizes que o Douro não para de chorar
pelos filhos que tens de amamentar.

Mãe Duriense, a tua verdade me guia.
Em ti vejo a minha tristeza e a tua alegria
das que ficaram quando tudo fugia,
das que semearam fé  e a minha poesia.

És dura como a pedra xistosa,
doce como a uva, bela como a rosa.
És mulher, és monte, és vinho, és perdão,
és o Douro inteiro  em peregrinação.



Victor Marques
Mãe  Douro  Terra Trabalho, filhos
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