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Minha mente levanta cânticos
junto às estrelas funestas,
jamais reverenciei o Sol.
Dentro de mim,
um ninho de incertezas,
uma dor ossificada
que murmura: sempre foste só.

Pois eu sou pira acesa,
presa ao contorno
de quem nunca conheceu o amor.

Teus lábios, a soleira do hálito.
Vinde a mim teu bálsamo,
ressuscitando-me do lodo primordial,
como as mãos de Jesus sobre Lázaro.
Firmamos o pacto numa cólera prosaica
e um tanto inatural.

Fui exilado de mim por tanto tempo —
meus sonhos e medos.
Agora só sigo a luz dos teus olhos —
abajures de pele,
nunca em Buchenwald fizeram igual —
faróis que consomem minhas sombras
até que você também se apague
e habite apenas o meu coração.
iannogueira Jul 27
A vida se desenrolou
como uma série de eventos inesperados.
E mesmo com tantos futuros à minha frente —
passado e presente —
mal consigo me deslumbrar.

A ansiedade ficou no armário,
como um jeans usado
do qual me cansei de vestir.
Já não me serve mais.

Preocupar-me demais…
mal sei quanto tempo tenho aqui.

Essa coisa indizível —
a sentença de morte
que todos evitamos —
me persegue, agora como bênção.

Antes de partir,
quero plantar flores.
iannogueira Jun 19
Abro a carne do peito
como quem abre uma janela,
e deixo a luz me varrer
com suas mãos amarelas.

Então me deito em silêncio
no edredom branco,
e espero a morte chegar.

Sou um soldado russo
e beijo você
como se beijasse o futuro.

Beijo você
como se a saliva pudesse
lavar meu passado.

Como se entre suas coxas
morasse a porta da festa
que eu fui barrado.

No fim,
somos apenas dois homens —
uma mentira sustentando a outra,
rezando para que esse quarto
seja um casulo,
e que ao sair pela porta
sejamos qualquer coisa,
sejamos farol em mar escuro.
iannogueira Jun 19
Sou como um samurai
rasgando o ventre em silêncio,
toda vez que a memória
me devolve o que vivi —
o que amei,
o que perdi.

Meu pensamento
tem a cor do céu
após a tempestade.
Carregado, pesado de tudo
o que não quer me deixar.

Então me abro —
inteiro, sem defesa —
deixo a luz me atravessar.

E com a abóbada
do peito escancarada,
fujo de mim
para enfim me encontrar.
iannogueira Jun 19
Eu acreditei que a dor
era o embrião do amor,
mas no fim, estava enganado.

Você me provou que a paixão
também pode virar solidão —
nem sempre é o contrário.

Minha cama se tornou
uma máquina do tempo.
Cheiro o meu travesseiro
e lembro de você,
como se pudesse recuperar o passado.

Mas nada te traria de volta.
Você se foi —
como tudo que me agarro.
iannogueira Jun 15
“Um dia eu vou criar asas” —
era o que eu sempre me dizia.
Sobrevivi preso numa jaula,
enlouqueci, evitava a luz do dia.

Então eu reivindiquei
toda a raiva que guardei
por nunca poder explodir.

Também o silêncio que engoli
quando quis falar e não consegui,
quando quis morrer — e não morri.

Me tornei o que resta
depois que se tira tudo:

uma alma carente
vagando no mundo.

Apenas mais um corpo em crise,
cheio de cicatrizes invisíveis,
cheio de fogo que nunca soube
fazer outra coisa além de queimar.

E agora,
sem nada —

sou, pela primeira vez, livre.
Mas ser livre
não é o mesmo que ser feliz.

E isso
ninguém nunca lembrou de me ensinar.
#português #confessional
iannogueira Mar 21
Dizem que o pecado viaja pela árvore
até encontrar um fruto pronto para recebê-lo.
Eu nunca pensei que essa fosse a minha sina,
todo amor em mim se transforma em veneno.

Invisível aos olhos do mundo,
como uma estrela à luz do meio-dia.
Você demorou a me enxergar,
mas eu sempre te via lá de cima.

Eu te avisei para não chegar muito perto,
ou aconteceria isso: eu te tornando poesia.
Ganhou uma página em mais um livro,
onde o meu sangue é usado como tinta.

Você não se assustou com a bagunça
do meu coração de romã despido,
e eu não pestanejei em te estender
um vislumbre do meu precipício.

Certa noite você me convidou para um concerto,
e eu disse que só iria
se tocassem o som da sua risada alta.
Me pergunto em que acorde nós erramos,
todas as risadas viraram lágrimas.

Agora o meu quarto testemunha
a minha eterna catatonia.
Lá fora, eu vivo.
Aqui dentro, espero que me ocorra a vida.
Um dia eu a tive, e soava como disritmia.
#português
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