Fogo e Saudade
O céu arde em brasas sobre o rio,
como se o sol cantasse ao desafio,
mas o Douro guarda segredos antigos
que só a noite revela aos meus amigos.
Pai António, firme como as encostas,
no olhar, o peso que trazias às costas,
perdido no tempo do desalento,
meu Douro, meu muro de sofrimento.
Maria, mãe, no silêncio da cozinha,
cheiro a pão e mosto e a labuta que se avizinha,
olhos que choram sem pedir nada,
videira da vida, da família sagrada.
Suor na vindima, rosto cansado,
mistura-se à terra, ao pó, ao fado,
e nas pipas dorme um tempo nunca criado
que afasta a solidão do passado.
Avós fantasmas doces e fiéis,
Escondidos entre tonéis,
sussurram histórias de fé e cansaço,
feito de uvas e do seu abraço.
No rio, o reflexo é pura ilusão,
procuro rostos que já cá não estão,
mas encontro sempre o mesmo brilho guardado
de um amor eterno, ousado.
Douro é saudade que o mundo reclama,
é fogo na alma, é lágrima e pão,
é força que prende e vento que chama,
meu destino, minha salvação.
Douro amor eterno antepassados