No poente alaranjado arde o céu sobre as vinhas e as cigarras parecem minhas, Neste meu Douro dourado.
Formigas cruzam caminhos de pedra xistosa, carregando alegria da bela mimosa. Abelhas embriagam-se no néctar adocicado das flores que o vento esqueceu. Borboletas cartas aladas dos deuses pousam breves nos versos meus. sobre a pele quente da colheita.
Oliveiras que enfeitam as encostas guardam segredos de enxadas às costas. raízes que se entrelaçam com ossos de meus antepassados Douro dos serões embriagados.
Cada videira com Seu tronco retorcido, é oração sem palavras, escavada pela fé de quem aqui tenha nascido. Homens de valor com paixão por mulheres de lenço de eterno pranto no silêncio da paisagem encontro Douro e meu lamento.
O rio, essa serpente de prata e memória, leva nas suas águas o reflexo do céu e da aurora É nascente e poente, vida que vai e regressa no ciclo eterno de todo o sempre.
E quando o sol mergulha no ventre da desta santa Terra. Ela canta baixinho uma canção no cume da serra.
O Douro é mais do que lugar. É pulso. É respiração da terra. É a poesia que ainda não foi escrita, mas que já vive em cada uva, em cada impulso. Em cada abraço apertado que dou à minha gente, em cada olhar que ama sem saber porquê apenas porque sente.