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Jul 5
Ainda sou ontem, espasmo em flor,
Perfume denso de antigo ardor.
Sou voz que canta em noite extrema,
Silêncio nu que não se tema.

Sou curvas vivas rumo ao sem-fim,
Luxúria rubra que nasce em mim.
Sou grito surdo, visão que tremia,
Fuga e sonho em agonia.

Sou sempre agora no espaço presente,
Vácuo pequeno, fim iminente.
Sou passo nu no jardim do além,
Andarilho que busca o que vem.

Sou emanação de um mito escondido,
Mistério oculto jamais vencido.
Sou longe, limite, sou mesmo o fim,
Extremo gesto que arde em mim.

Sou hoje febre, poética chama,
Raiz do líquen que a dor inflama.
Sou litígio, pecado, asas sem chão,
Sou abstração em combustão.

Sou o viajante em sombra e luz,
Platônico eco que me conduz.
Símbolo, signo, lenda perdida,
Sou o enigma que dança a vida.

Ainda sou ontem, voo do futuro,
Vício que sangra em plano obscuro.
Transcendência entregue à musa silente,
Consciência do eterno e ardente.

Sou renascer, sou brilho disperso,
Translúcido caos em verso reverso.
“...& em tudo há profecia se sou eterno” —
Sou chama errante no verbo moderno.
Othon
Written by
Othon  M/Southern Brazil
(M/Southern Brazil)   
37
 
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