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Othon Dec 2024
Mil eclipses de sandice eu trago,
Nos sonhos de um mundo sem alento.
Três, quatro, cem mil sóbrios do estrago,
Despindo os deuses do firmamento!

Rasgo o véu do demiurgo aziago,
Derrubo mitos com meu pensamento.
Sou vendaval, ironia, presságio —
Rindo do caos em meu sacramento.

Crê em mim — no assombro que há de vir!
Nas mancebias do reino interior,
Faço o Deus do Todo sucumbir
E coro o Nada com meu esplendor!

Meu nada é verbo, é solilóquio forte,
Que vence o ser com voz sem dono.
Antes de homem, fui verme e morte —
Agora sou matéria em abandono.

Sou lâmpada viva no escuro caminho,
No tropismo ancestral do universo.
Arlequim que tece o credo em desalinho,
Vestido da epifania do verso!
Othon Dec 2024
Do alto do paradoxo, o ***** vulto
Se parte em sombras num degredo oculto,
Trazendo harpejos de verdades vãs —
Elegia fatal de cultos e manhãs.

Invoca aforismos de amarga discórdia,
E passa, impiedosa, a vida sem glória,
Sorvendo caminhos sem paz nem memória —
Bruxa do acaso, em trágica história!

Como um barquinho de papel a afundar,
Vai-se a ilusão que eu tentei resguardar,
Afoga-se o último gesto a indagar
Nos restos do peito que ousou amar.

Ó quimeras do assombro, deixai-me em vão!
Cansado, resisto na escuridão,
Sou vão eterno, um eco em dialeto,
Preso aos grilhões do silêncio inquieto.

Cantais a ingratidão como harmonia,
Enfada-vos a mais sutil poesia —
Mas eu sou supremo, imagem final,
No abismo sem nome, verbo sem sinal!

— The End —