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Othon Jul 15
A lua nascente do Diabo,
Perseguida por todos os seus revezes...
Contradição da contradição...
Suprema desconhecida.

A lua nascente do Diabo,
Vem vindo,
Nas alamedas caindo,
De pranto em pranto,
De pensamento em pensamento,
Na descrença de todas as crenças,
Suprema em sua própria crença.

Vem vindo, vem vindo,
Caindo por cima das ruínas,
De um mundo decadente,
Ela só sabe a si mesma,
Só conhece a si mesma.

Suprema em Sua ipseidade absoluta,
Ela vem vindo, ela vem vindo,
Liberar o deus e o diabo de cada um...
Pelas penedias siderais,
Ela vem vindo, ela vem vindo,
Questionando todos os "eus",
Que há? Quem és tu, ó verme?

Turbilhão de átomos dispersos...
Massacrado pelos fatos,
Quem és tu? Um nada querendo ser,
Alguma coisa de ser,
Sem poder ser, está morrendo.
E ela vem caindo, vem caindo,

Na amargura de teu ser...
Tu nadas é, e pensas ser!
Verme corroído pela ironia de si mesmo!
Tragado pela discórdia de seu próprio eu!
Sim, tu és um nada.

E ela vem vindo, ela vem vindo,
Para findar todo teu ser...
Para colocar-te no seu ínfimo lugar,
Ó verme orgulhoso e egocêntrico.

Tu és nada! Diante da suprema Deusa.
Que é tudo, sem ser, que é nada,
Sendo tudo.
E nela crê-se o axioma absoluto:
"— O diabo é Deus, o diabo é Deus!
Deus é o diabo..."
Othon Jul 12
Ri, coração — com lábios de demência,
Com a febre antiga do que já morreu,
Ri do silêncio, do que não se deu,
Ri com a náusea sagrada da existência.

És trôpego bufão da consciência,
A flor sombria que ninguém colheu,
O som que ecoa do que não nasceu,
A cicatriz da própria irrelevância.

Bendito o riso que, entre os escombros,
Faz da ruína seu clarim de assombros,
E dança à beira do abismo mais frio.

Pois no teatro absurdo deste engano,
Só resta rir, como um defunto insano,
Com a boca cheia de um último vazio!
Othon Jul 11
Fitando o sangue das estrelas porvir no pó de cocaína de minha
desilusão imperfeita
Estrela ferida no céu ferido, morte vivida
Minúscula verdade de vidro quebrado de meu coração
Sol quebrado igreja ambulante pastor maligno do reino de sua
verdade podre
Eu quero voar nas vestes de meu ser colorindo o horizonte do
impossível
Foder a musa maligna de meu destino injetar nas veias os
espasmos de deus
Louco infinito não dito maldito na flor de cinzas de um céu de
ponta cabeça avesso ao inverso além ponto final
Eu quero ver o infinito num luar de pedra fumar meu coração
num balanço ao precipício
Voar na profecia indefinida da paranoia de um deus louco e ******>Enterrar meu eu na tumba do eterno segredo escondido nas
dimensões do caos ser nada nem ninguém e fumar a flor de lótus
num monte de sucatas
Repousar no sonho de um gigante enquanto um bruxo mastiga
seu coração com a minha vingança nas mãos de meus desejos
irrealizáveis
Mastigar todos os raciocínios como um chiclete enquanto pulo
por entre abismos
Paraíso vazio cheio de fogo queimando de uma alma
inalcançável enquanto o inferno escorre sangue de meu cérebro
Ser carregado em velocidade como vultos dançantes nas
sombras do nada e ser a síntese do nada e o contrário da
síntese além do contrário
Mutilar a minha contradição encarnada sob a chuva da lágrima
dos anjos
Othon Jul 11
Eu
Tenho a eternidade dentro de meus olhos
A sanidade e a loucura entre um humano e Deus
O barco do infinito entre os abrolhos
A dança das visões de todos os meus eus!

Sou o cosmos que anuncia, na hiperestesia
De todas as guerras congregadas
Minha alma, a vencedora supremacia
No gládio das verdades rebeladas!
Othon Jul 11
o todo
evapora.
um eco bate —
panteão em pane.

no labirinto do mundo
deixo meu peito
como oferenda.

sou fantasma.
sou glitch.
sou o aviso antes da queda.
sou salmo escrito com raiva e saliva.

o mundo sangra.
e sangra.
e sangra.
e eu?
sou filho disso.
da dor sem dono.
do sonho torcido.

não,
ele nunca me foi lar.
nem os amores me cabiam.
nem a pérola,
nem o mar.

sou flor invertida,
luciferina,
linda,
ferida.

desfolho.
uma a uma.

pétalas caem
como promessas quebradas.

quero ser voo
sem rota,
sem chão,
sem nada.

meus dédalos?
são internos.
e eu voo neles.

no escuro.  
                    em silêncio.  
                            inteiro.
Othon Jul 5
Ainda sou ontem, espasmo em flor,
Perfume denso de antigo ardor.
Sou voz que canta em noite extrema,
Silêncio nu que não se tema.

Sou curvas vivas rumo ao sem-fim,
Luxúria rubra que nasce em mim.
Sou grito surdo, visão que tremia,
Fuga e sonho em agonia.

Sou sempre agora no espaço presente,
Vácuo pequeno, fim iminente.
Sou passo nu no jardim do além,
Andarilho que busca o que vem.

Sou emanação de um mito escondido,
Mistério oculto jamais vencido.
Sou longe, limite, sou mesmo o fim,
Extremo gesto que arde em mim.

Sou hoje febre, poética chama,
Raiz do líquen que a dor inflama.
Sou litígio, pecado, asas sem chão,
Sou abstração em combustão.

Sou o viajante em sombra e luz,
Platônico eco que me conduz.
Símbolo, signo, lenda perdida,
Sou o enigma que dança a vida.

Ainda sou ontem, voo do futuro,
Vício que sangra em plano obscuro.
Transcendência entregue à musa silente,
Consciência do eterno e ardente.

Sou renascer, sou brilho disperso,
Translúcido caos em verso reverso.
“...& em tudo há profecia se sou eterno” —
Sou chama errante no verbo moderno.
Othon Jul 5
Deuses riem em linho envoltos,
Brincam nos céus, com gestos soltos.
O carrossel gira sem razão,
No eterno mundo da criação.

Gira e gira, vai ao zero,
Ao infinito, cego e sincero.
E lá do alto, o que reluz
É o olhar mudo de uma cruz.

O omnipresente tudo vê,
Mas cala o caos de cada fé.
Então os deuses, na ilusão
De sua eterna compreensão,

Nos limitam, sem pudor,
Em cada gesto, em cada dor.
Pensar, sentir, falar, agir —
Tudo é norma a se cumprir.

E seguem rindo, feito crianças,
Brincando além das esperanças.
Montam cavalos gastos, cansados,
De madeira e sonhos rachados.
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